No passado, quando tinha o meu acervo de textos virtuais, escrevia sobre sentimentos e filosofias pessoais de uma forma bastante abstrata, tão intensa que extrapolava até mesmo os limites do que as pessoas achavam que fazia sentido. Os meus colegas de escola acompanhavam o que eu escrevia e, mesmo que muitos gostassem, para outros aquilo não tinha grande lógica — e eu compreendia, mas não me importava. Continuava a escrever e a explorar.
As minhas palavras tinham o propósito de dar forma estética ao que em mim era desordenado e opaco. Conseguia transformar a mais pequena inquietação num quadro pós-impressionista de sentimentos. Na altura, acreditava que um texto belo valia mais do que um texto lógico. Hoje reconheço que a estética sozinha é condição necessária, mas não suficiente, para que um trabalho artístico tenha valor abstrato.
Citando Rainbow Rowell em Eleanor & Park:
Eleanor was right. She never looked nice. She looked like art, and art wasn’t supposed to look nice; it was supposed to make you feel something.
Desde que li esta passagem, há vários anos, concordei que a beleza na arte precisa ser complemento, não núcleo.
Mudei-me para Portugal com 11 anos e, desde então, a minha escrita passou por vários processos de transformação. Quando comecei a frequentar a escola, vi-me obrigado a adaptar a minha forma de escrever porque era considerada errada para os padrões daqui. As minhas professoras faziam questão de corrigir a ortografia:
eles sentem-se bem, não “se sentem bem!”.
Fiquei hiper-vigilante em relação à forma como escrevia e, anos mais tarde, consegui adaptar-me quase por completo ao português europeu. Fiz amigos, lia alguns livros na língua de Camões e, aos poucos, cheguei a uma escrita que me trazia algum conforto e autenticidade.
Naquele espaço virtual onde publicava os meus textos, escrevia em português europeu, às vezes em inglês e quase nunca em português do Brasil. Hoje, depois de anos de faculdade de engenharia e de consumo de conteúdos em inglês, sinto que a língua inglesa me traz maior conforto. Desde pequeno aprendi que o meu português não era “adequado”. Nem o europeu, nem o brasileiro soam naturais para mim na escrita. Por isso, no meu diário pessoal, escrevo estritamente em inglês.
Neste espaço, ainda estou a decidir em que língua escrever. Sei que a minha escrita vai misturar elementos do Brasil e de Portugal, mas espero que quem leia não se importe com essa transição constante. A minha cabeça funciona de uma forma particular e talvez seja nessa mistura que eu encontre, enfim, um caminho de conexão.
— Lano
Que bonito texto, esses dias eu estava escrevendo também no meu diário que sair de casa, no caso do país de origem para viver em outro é sempre sobre viver um pouco no limbo, que já nem a origem e nem o destino parecem muito bem "casa", acho que é a mesma coisa quando você diz quando não consegue se expressar nem pt-pt ou pt-br totalmente, mas talvez seja sobre encontrar algo que seja você e talvez você seja essa mistura de de português e brasil. s2.
ReplyDeletemuito feliz por te ler, querido!