Sep 5, 2025

 

sim, mesmo depois de anos de meditação e auto cuidado, alguns dias ainda sinto dificuldade em aceitar que quase tudo está fora do meu controlo e que a vida está acontecendo e que a realidade vai se desenrolar de formas imprevisíveis — hoje é um desses dias.

acordei vulnerável, vivi o dia de hoje com a mente em outro lugar. fui fazer atividade física no final do dia para receber a dose diária de dopamina que funciona, mas mesmo assim cheguei em casa e me olhei no espelho e voltei a me sentir sozinho. fiz a minha skincare e decidi que devia mandar uma mensagem perguntando se estás bem, mandei e apaguei alguns minutos depois. ficou lá: mensagem apagada. me senti culpado.

que tal eu parar de agir por impulso e aceitar que tudo passa e que tudo muda o tempo todo e que preciso me dar tempo, carinho, cuidado?

sim, terminar ciclos é sempre uma tarefa difícil, especialmente quando sentimos que não importa o que se faça, as coisas vão ser o que são. temos (tenho) essa mania, teimosia, de achar que posso mudar as coisas ao meu redor. que tal começar a fazer a mudança a partir de mim? que tal...

estou agora deitado ouvindo Petrichor (Keaton Hanson & Ben Ford) e pensando em formas de exteriorizar os meus pensamentos — não sinto que hoje tive sucesso nisso, mas vou publicar mesmo assim. fiz o compromisso de que, mesmo que o que eu quero criar não saia com o propósito que desejei, vou seguir tentando. 


com amor,


— Lano



Sep 2, 2025


Aug 30, 2025

Impulsionado por um amigo muito querido, voltei a escrever publicamente (já escrevo no meu diário semanalmente, mas há quase 10 anos não partilhava textos meus com ninguém).

No passado, quando tinha o meu acervo de textos virtuais, escrevia sobre sentimentos e filosofias pessoais de uma forma bastante abstrata, tão intensa que extrapolava até mesmo os limites do que as pessoas achavam que fazia sentido. Os meus colegas de escola acompanhavam o que eu escrevia e, mesmo que muitos gostassem, para outros aquilo não tinha grande lógica — e eu compreendia, mas não me importava. Continuava a escrever e a explorar.

As minhas palavras tinham o propósito de dar forma estética ao que em mim era desordenado e opaco. Conseguia transformar a mais pequena inquietação num quadro pós-impressionista de sentimentos. Na altura, acreditava que um texto belo valia mais do que um texto lógico. Hoje reconheço que a estética sozinha é condição necessária, mas não suficiente, para que um trabalho artístico tenha valor abstrato.

Citando Rainbow Rowell em Eleanor & Park:

Eleanor was right. She never looked nice. She looked like art, and art wasn’t supposed to look nice; it was supposed to make you feel something.


Desde que li esta passagem, há vários anos, concordei que a beleza na arte precisa ser complemento, não núcleo.

Mudei-me para Portugal com 11 anos e, desde então, a minha escrita passou por vários processos de transformação. Quando comecei a frequentar a escola, vi-me obrigado a adaptar a minha forma de escrever porque era considerada errada para os padrões daqui. As minhas professoras faziam questão de corrigir a ortografia:

eles sentem-se bem, não “se sentem bem!”.

Fiquei hiper-vigilante em relação à forma como escrevia e, anos mais tarde, consegui adaptar-me quase por completo ao português europeu. Fiz amigos, lia alguns livros na língua de Camões e, aos poucos, cheguei a uma escrita que me trazia algum conforto e autenticidade.

Naquele espaço virtual onde publicava os meus textos, escrevia em português europeu, às vezes em inglês e quase nunca em português do Brasil. Hoje, depois de anos de faculdade de engenharia e de consumo de conteúdos em inglês, sinto que a língua inglesa me traz maior conforto. Desde pequeno aprendi que o meu português não era “adequado”. Nem o europeu, nem o brasileiro soam naturais para mim na escrita. Por isso, no meu diário pessoal, escrevo estritamente em inglês.

Neste espaço, ainda estou a decidir em que língua escrever. Sei que a minha escrita vai misturar elementos do Brasil e de Portugal, mas espero que quem leia não se importe com essa transição constante. A minha cabeça funciona de uma forma particular e talvez seja nessa mistura que eu encontre, enfim, um caminho de conexão.

— Lano