noites quentes de verão
queimam em brasa
o abraço apertado sob a luz do luar
de Évora, fui feliz naquela noite
as garrafas de vinho abertas
as rolhas no chão
bolos no carro depois de um dia cheio
os parabéns cantados
parados no trânsito
imprevisíveis novos ciclos
a falésia ao entardecer
no paraíso
sentei-me à varanda
o oceano de alvor
em ondas de agosto
sob os meus olhos
bêbado, chorei
na esperança de que o álcool
fizesse desaparecer de mim
as palavras ditas
o vazio que tentei preencher
fui para a cama
nos teus braços
sem forças
e agora, meses depois
sento-me nesta livraria
rodeado de histórias
que não as minhas
bebo um vinho
e escrevo
e desta vez choro em palavras
não em lágrimas
secaram
em silêncio
tenho urgência
de que tantas coisas que passaram
passem
e permitam que eu possa
finalmente
não sentir nada
mas eu sinto tudo
e senti sozinho
porque hoje
e ontem
e provavelmente amanhã
olho para as músicas intermináveis
que pairam sem resposta
e que enviam os sentimentos
que já não sei escrever
mas escrevo
e envio músicas
talvez mais um copo de vinho
e mais uma música
e mais um silêncio
observa-me
sou tudo o que posso
tudo o que pude
pouco
e tudo
há algo para mim neste silêncio
que me diga que ainda estás
em algum lugar
que já não posso alcançar
baixaste os braços
as mãos
e em dias como hoje
ainda os procuro
na visão baixa dos meus olhos
não os encontro
os bagels de madrugada
num quarto
que hoje me é estrangeiro
onde adormeces no meu peito
e o mundo lá fora
se silencia
para que eu possa
uma vez mais
ouvir o som
da tua respiração
enquanto a lua lá fora
das luas todas que brilharam
e iluminaram noites escuras
como mil sóis
já não consigo alcançá-la
por isso
ofereço-te esta
lua de papel













