O Igor me chamou para fazer um desafio nesse mês de outubro que consiste. basicamente, em focar em uma ou duas coisas importantes e que estão ainda só no campo das ideias para torná-las realidade (ou, pelo menos, tirá-las do papel). Adorei a ideia, até porque preciso encontrar algum propósito na minha vida, seja onde for — na arte, na fotografia, no silêncio — e depois do surto que foi o mês de setembro, acho que é uma boa altura para que eu possa parar e pensar sobre isso, aqui, em voz alta.
- Criar um podcast: sim, isso era para ter acontecido no mês passado, mas por conta da minha saúde mental que não anda das melhores, não dediquei praticamente tempo nenhum pra isso. Já tenho um bloco de notas no telefone com alguns temas, preciso sentar e começar.
- Manter um espaço para publicar as minhas fotografias de forma consistente: a fotografia é das únicas atividades que me fazem sentir parte disso (disso, seja lá o que isso for), já que nos últimos meses (e arrisco a dizer anos) não me sinto mais parte de nada. A propósito, tenho um espaço no Unsplash onde costumava publicar um pouco do meu trabalho fotográfico, mas provavelmente vou criar um sub espaço aqui, dentro desse blog, para compartilhar um pouco do que vejo.
BARREIRAS:
- Redes sociais e tempo de tela em excesso;
- Passar pouco tempo na natureza e não sobrar tempo de tédio durante o dia;
- Consumir muito conteúdo dos mesmos assuntos no YouTube;
- Faculdade caótica;
- Vazio e crises existenciais.
O QUE FAZER:
- Manter a escrita no diário de forma consistente;
- Mentalizar que as coisas tem um tempo de execução e não me cobrar por perfeição;
- Meditar mais e trabalhar a minha auto-estima para conseguir criar.
Sep 21, 2025
quero escrever sobre a vida
setembro veio forte como um tornado e eu fui atingido com alguma intensidade; parece que fui deslocado alguns metros de distância do lugar onde pensava estar firme e seguro. desde as notícias do mundo exterior (o genocídio em Gaza, principalmente) que me lembram que a nossa existência dentro do capitalismo é pura mercadoria — essa situação que se perpetua há meses sem conta na Palestina não termina justamente por haver muita gente a lucrar com a morte de milhares de crianças — sinto raiva e vontade de chorar. penso que a nossa luta coletiva não está a fazer efeito (nem na micro nem na macroesfera).
ontem, enquanto fazia uma caminhada noturna pelas ruas de lisboa a ouvir Ruby Haunt (inclusive, fiz toda uma viagem mental enquanto ouvia Headland), fui atravessado por pensamentos que já não são novidade na minha esfera íntima, mas desta vez vieram com mais força. sentei-me no primeiro banco que vi, naquela rua que vai dar à Praça de Touros, observei as pessoas a caminhar e a conversar, a viver as suas vidas, a falar ao telefone apressadamente, e pensei sobre o que estou a fazer aqui.
não sinto nada, ao contrário do Luca; por isso não sei se tenho algo a devolver ao universo caso desistisse. e isso, ao mesmo tempo que me mantém aqui, mantém-me apenas vivo.
apenas vivo — já é uma grande coisa.
em poucas semanas vou fazer 30 anos e decidi escrever uma carta ao meu eu do passado, para que, caso ele a lesse, soubesse que conseguiu muitas coisas que pensava que não ia conseguir. lembrei-o de que, apesar da estagnação e da inércia da vida quotidiana a que chegámos, estamos aqui. disse que precisamos os dois de aprender a lidar com a solidão, porque o meu eu do presente infelizmente não conseguiu cuidar disso por nós — e ela vai chegar (e chegou).
não sei como terminar este texto porque há muitas coisas que eu queria desenvolver sobre solidão e solitude, mas não sinto nada agora; portanto vou publicá-lo mesmo assim.
sobrevivi a ontem à noite.
— Lano
ontem, enquanto fazia uma caminhada noturna pelas ruas de lisboa a ouvir Ruby Haunt (inclusive, fiz toda uma viagem mental enquanto ouvia Headland), fui atravessado por pensamentos que já não são novidade na minha esfera íntima, mas desta vez vieram com mais força. sentei-me no primeiro banco que vi, naquela rua que vai dar à Praça de Touros, observei as pessoas a caminhar e a conversar, a viver as suas vidas, a falar ao telefone apressadamente, e pensei sobre o que estou a fazer aqui.
de repente lembrei-me do Luca e do enorme sofrimento que ele causou nas pessoas à sua volta quando desistiu. nada se cria, nada se destrói: o sentimento e a dor que antes habitavam o corpo do Luca simplesmente migraram para outros corpos que choraram a sua perda e seguiram viagem, cada um com um fragmento daquilo que antes habitava um corpo só. acho que é isso que significa desistir: entregar a dor que já não cabe em nós para que o mundo, que a causou, agora lide com ela.
não sinto nada, ao contrário do Luca; por isso não sei se tenho algo a devolver ao universo caso desistisse. e isso, ao mesmo tempo que me mantém aqui, mantém-me apenas vivo.
apenas vivo — já é uma grande coisa.
em poucas semanas vou fazer 30 anos e decidi escrever uma carta ao meu eu do passado, para que, caso ele a lesse, soubesse que conseguiu muitas coisas que pensava que não ia conseguir. lembrei-o de que, apesar da estagnação e da inércia da vida quotidiana a que chegámos, estamos aqui. disse que precisamos os dois de aprender a lidar com a solidão, porque o meu eu do presente infelizmente não conseguiu cuidar disso por nós — e ela vai chegar (e chegou).
não sei como terminar este texto porque há muitas coisas que eu queria desenvolver sobre solidão e solitude, mas não sinto nada agora; portanto vou publicá-lo mesmo assim.
sobrevivi a ontem à noite.
— Lano
Sep 17, 2025
fiz o check-out
coloquei as roupas na mochila depois de tomar um banho quente naquela casa de banho partilhada. a minha cabine era só mais uma, dentre várias, e deixei-me ficar de pé. senti a água quente a escorrer pelo meu rosto e pelas minhas costas, a garganta em nó, enquanto a pele queimava em brasa com o calor da água que, desesperadamente, eu esfregava para limpar o suor e o sal.
vesti-me, mais ou menos com pressa, despedi-me da colega de quarto que estava na cama ao lado e com quem troquei algumas conversas na manhã anterior. saí do quarto, deixei o cartão na receção e fiz o check-out. enquanto isso, a porta que dava para a rua estava aberta, no lado oposto ao balcão, com a luz do sol a entrar violentamente pelo vidro. pessoas aleatórias entram e saem da sala. dirigi-me, apressadamente, para a saída e a minha pele começou a arder com o calor.
olhei ao redor, mas não observei. não reparei em ninguém e ninguém reparou em mim.
estava perdido (estou?).
no dia anterior, deitado na areia, sem saber para onde iria e para onde fui, senti-me esmagado pelo vazio e pela camada fina de ar que fazia pressão contra o meu corpo, de súbito, já não me reconheço mais. sou o reflexo das minhas escolhas e deixei-me condicionar por tudo o que fiz até aqui. ouvi as ondas e a minha respiração.
no dia anterior, deitado na areia, sem saber para onde iria e para onde fui, senti-me esmagado pelo vazio e pela camada fina de ar que fazia pressão contra o meu corpo, de súbito, já não me reconheço mais. sou o reflexo das minhas escolhas e deixei-me condicionar por tudo o que fiz até aqui. ouvi as ondas e a minha respiração.
entrei na água e nadei. batia os braços, em nado de bruços e em técnica, deixei-me boiar de barriga para cima e pensei se seria má ideia deixar-me ficar.
sobrevivi e, no dia seguinte, estou de mochila às costas, pronto para regressar. olhei para o relógio e ainda faltam algumas horas para o transporte de volta a casa. as horas passaram-se e eu voltei.
sinto falta de coisas simples. sinto falta de deitar a cabeça numa toalha, num dia ensolarado, e ouvir os pássaros num jardim, abraçar as árvores, molhar a cara em água fria e olhar, no espelho, o meu reflexo satisfeito com o que vejo.
fiz o check-out, mas continuo lá, com a cabeça mais ou menos fora da água, à espera que a maré me leve. estou banhado em sal e luz.
se fosses capaz de olhar para mim e reparar que estou aqui e lá e em todos os lugares e em lugar nenhum. se fosses capaz de abraçar-me com o calor dos braços que queimam como mil sóis. se fosses capaz de ouvir-me onde ninguém mais consegue ouvir. se fosses capaz de regar-me e podar-me.
se fosses capaz. (serei eu capaz?)
mas, naquela tarde, o sol pôs-se e eu continuei a alimentar a esperança de que, no meio disto tudo, ainda há sementes que valem a nossa vida e o tanto que possamos nutri-las. apesar de tudo, não quero, ou não me faz sentido, abrir mão deste grande nós que habita a terra.
(um dia ruim não é uma vida ruim).
— Lano
Aug 30, 2025
olá, eu sou o lano (prólogo)
Impulsionado por um amigo muito querido, voltei a escrever publicamente (já escrevo no meu diário semanalmente, mas há quase 10 anos não partilhava textos meus com ninguém).
No passado, quando tinha o meu acervo de textos virtuais, escrevia sobre sentimentos e filosofias pessoais de uma forma bastante abstrata, tão intensa que extrapolava até mesmo os limites do que as pessoas achavam que fazia sentido. Os meus colegas de escola acompanhavam o que eu escrevia e, mesmo que muitos gostassem, para outros aquilo não tinha grande lógica — e eu compreendia, mas não me importava. Continuava a escrever e a explorar.
As minhas palavras tinham o propósito de dar forma estética ao que em mim era desordenado e opaco. Conseguia transformar a mais pequena inquietação num quadro pós-impressionista de sentimentos. Na altura, acreditava que um texto belo valia mais do que um texto lógico. Hoje reconheço que a estética sozinha é condição necessária, mas não suficiente, para que um trabalho artístico tenha valor abstrato.
Citando Rainbow Rowell em Eleanor & Park:
Desde que li esta passagem, há vários anos, concordei que a beleza na arte precisa ser complemento, não núcleo.
Mudei-me para Portugal com 11 anos e, desde então, a minha escrita passou por vários processos de transformação. Quando comecei a frequentar a escola, vi-me obrigado a adaptar a minha forma de escrever porque era considerada errada para os padrões daqui. As minhas professoras faziam questão de corrigir a ortografia:
eles sentem-se bem, não “se sentem bem!”.
Fiquei hiper-vigilante em relação à forma como escrevia e, anos mais tarde, consegui adaptar-me quase por completo ao português europeu. Aos poucos, cheguei a uma escrita que me trazia algum conforto e autenticidade.
Naquele espaço virtual onde publicava os meus textos, escrevia em português europeu, às vezes em inglês e quase nunca em português do Brasil. Hoje, depois de anos de faculdade de engenharia e de consumo de conteúdos em inglês, sinto que a língua inglesa me traz maior conforto. Desde pequeno aprendi que o meu português não era “adequado”. Nem o europeu, nem o brasileiro soam naturais para mim na escrita. Por isso, no meu diário pessoal, escrevo estritamente em inglês.
Neste espaço, ainda estou a decidir em que língua escrever. Sei que a minha escrita vai misturar elementos do Brasil e de Portugal, mas espero que quem leia não se importe com essa transição constante. A minha cabeça funciona de uma forma particular e talvez seja nessa mistura que eu encontre, enfim, um caminho de conexão.
— Lano
No passado, quando tinha o meu acervo de textos virtuais, escrevia sobre sentimentos e filosofias pessoais de uma forma bastante abstrata, tão intensa que extrapolava até mesmo os limites do que as pessoas achavam que fazia sentido. Os meus colegas de escola acompanhavam o que eu escrevia e, mesmo que muitos gostassem, para outros aquilo não tinha grande lógica — e eu compreendia, mas não me importava. Continuava a escrever e a explorar.
As minhas palavras tinham o propósito de dar forma estética ao que em mim era desordenado e opaco. Conseguia transformar a mais pequena inquietação num quadro pós-impressionista de sentimentos. Na altura, acreditava que um texto belo valia mais do que um texto lógico. Hoje reconheço que a estética sozinha é condição necessária, mas não suficiente, para que um trabalho artístico tenha valor abstrato.
Citando Rainbow Rowell em Eleanor & Park:
Eleanor was right. She never looked nice. She looked like art, and art wasn’t supposed to look nice; it was supposed to make you feel something.
Desde que li esta passagem, há vários anos, concordei que a beleza na arte precisa ser complemento, não núcleo.
Mudei-me para Portugal com 11 anos e, desde então, a minha escrita passou por vários processos de transformação. Quando comecei a frequentar a escola, vi-me obrigado a adaptar a minha forma de escrever porque era considerada errada para os padrões daqui. As minhas professoras faziam questão de corrigir a ortografia:
eles sentem-se bem, não “se sentem bem!”.
Fiquei hiper-vigilante em relação à forma como escrevia e, anos mais tarde, consegui adaptar-me quase por completo ao português europeu. Aos poucos, cheguei a uma escrita que me trazia algum conforto e autenticidade.
Naquele espaço virtual onde publicava os meus textos, escrevia em português europeu, às vezes em inglês e quase nunca em português do Brasil. Hoje, depois de anos de faculdade de engenharia e de consumo de conteúdos em inglês, sinto que a língua inglesa me traz maior conforto. Desde pequeno aprendi que o meu português não era “adequado”. Nem o europeu, nem o brasileiro soam naturais para mim na escrita. Por isso, no meu diário pessoal, escrevo estritamente em inglês.
Neste espaço, ainda estou a decidir em que língua escrever. Sei que a minha escrita vai misturar elementos do Brasil e de Portugal, mas espero que quem leia não se importe com essa transição constante. A minha cabeça funciona de uma forma particular e talvez seja nessa mistura que eu encontre, enfim, um caminho de conexão.
— Lano
Subscribe to:
Comments (Atom)













