ontem, enquanto fazia uma caminhada noturna pelas ruas de lisboa a ouvir Ruby Haunt (inclusive, fiz toda uma viagem mental enquanto ouvia Headland), fui atravessado por pensamentos que já não são novidade na minha esfera íntima, mas desta vez vieram com mais força. sentei-me no primeiro banco que vi, naquela rua que vai dar à Praça de Touros, observei as pessoas a caminhar e a conversar, a viver as suas vidas, a falar ao telefone apressadamente, e pensei sobre o que estou a fazer aqui.
de repente lembrei-me do Luca e do enorme sofrimento que ele causou nas pessoas à sua volta quando desistiu. nada se cria, nada se destrói: o sentimento e a dor que antes habitavam o corpo do Luca simplesmente migraram para outros corpos que choraram a sua perda e seguiram viagem, cada um com um fragmento daquilo que antes habitava um corpo só. acho que é isso que significa desistir: entregar a dor que já não cabe em nós para que o mundo, que a causou, agora lide com ela.
não sinto nada, ao contrário do Luca; por isso não sei se tenho algo a devolver ao universo caso desistisse. e isso, ao mesmo tempo que me mantém aqui, mantém-me apenas vivo.
apenas vivo — já é uma grande coisa.
em poucas semanas vou fazer 30 anos e decidi escrever uma carta ao meu eu do passado, para que, caso ele a lesse, soubesse que conseguiu muitas coisas que pensava que não ia conseguir. lembrei-o de que, apesar da estagnação e da inércia da vida quotidiana a que chegámos, estamos aqui. disse que precisamos os dois de aprender a lidar com a solidão, porque o meu eu do presente infelizmente não conseguiu cuidar disso por nós — e ela vai chegar (e chegou).
não sei como terminar este texto porque há muitas coisas que eu queria desenvolver sobre solidão e solitude, mas não sinto nada agora; portanto vou publicá-lo mesmo assim.
sobrevivi a ontem à noite.
— Lano

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